Maria Terreira tem as mãos macias e um nariz que se assemelha a uma rampa de esqui rumo ao amor. Maria Terreira fala pouco inglês e reside num edifício pesado de gesso novo, que parece velho ao lado da animada rua principal. O chão do seu apartamento está coberto com frios azulejos, e sobre o papel de parede amarelo penduram-se quadros baratos cuja aleatoriedade oferece um pouco de criatividade à sua vida de relógio suíço - mostrando que existe algo mais. Quando as amigas aparecem às sextas-feiras, é provável que todas acabem a pôr batom na casa de banho de Maria Terreira e a fumar na sua sala de estar porque, após a segunda garrafa de Moscatel, ela já teve quanto baste da sua vida ordeira. Maria Terreira não consegue desfazer-se de objetos que lhe foram dados antes da virada do milénio. As suas divisões preenchem-se com móveis pesados de vidas passadas, tornando o seu pequeno apartamento ainda mais pequeno, evitando que Maria consiga fugir casualmente de tudo para começar noutro lugar novo, sem a pesada construção e os azulejos frios sobrecarregando os seus pensamentos. A escuridão e a decoração ditam as regras, por vezes assustando-a, quais experiências que nada alteram. Que não levam a lugar algum e não têm qualquer finalidade plausível. Através das quais não nos tornamos nem maduros nem mais fortes, e apenas revelam a sua fatalidade imaginária no final, fazendo-nos sentir significantes. Maria Terreira gosta de deixar espaço para o acaso, pois ama tudo o que sente estar para além da sua área de responsabilidade. Tudo o que fuja ao seu controlo. Homens, estações do ano e a última blusa que lhe serve na perfeição.
Konstantin Arnold
Lissabon
Book
Menina, um conto de Konstantin Arnold
Ein ins Portugiesiche übersetzter Einblick in mein neues Buch. tba
Original